quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Domingão "Homer Simpson"


Recebi um e-mail alguns dias atrás da aluna Ainoã Scatolin, do curso de Jornalismo da UNASP, Centro Universitário Adventista de São Paulo, solicitando uma entrevista para a edição temática do site "Canal da Imprensa" e o papo foi sobre a programação televisiva do domingão (não... do Faustão, NÃO...). Abaixo trancrevo a entrevista publicada neste link. Apenas uma correção: Sou doutorando em "Educação para a Ciência", com o tema " TV Digital e Ensino de Ciências" e não em "TV Digital". O resto tá OK...


 


Marcos Américo
 – Não sou contra o entretenimento e creio que todos têm o direito de ter o seu momento "Homer Simpson", no qual se deita em frente à TV com uma lata de cerveja e não quer se pensar em nada... Mas a programação dominical parece ter sido feita pensando que todos são "Homer Simpson"." 

Domingo

 dominado

Ainoã Scatolin 

População reunida, todos em seus assentos, o show vai começar. Bem ao centro, inicia-se o espetáculo. O público vibra com as alegrias interpretadas. A platéia chora dividindo a dor assistida. O espectador, dono de quase nada, identifica-se com o que acontece longe, mas ao alcance de seus olhos. Na antiguidade, chamaríamos de circo. Hoje, denominamos de domingo na TV.

O espetáculo se deslocou da arena e pousou no centro de nossas salas. É ali na tela que grande parte dos brasileiros vivencia todas as situações que a economia e política do país não deixam que experimentem de outra forma. O professor e mestre Marcos Américo, o Tuca, coordenador dos Cursos de Comunicação Social da FAAC-UNESP, graduado em Rádio e TV e doutorando em TV Digital pela UNESP, sugere que o baixo padrão das programações dominicais é fruto da soma entre motivações mercadológicas das emissoras e passividade do telespectador, que gosta do que se apresenta e responde com audiência. 

Canal da Imprensa - Como você analisa a grade de Domingo na TV aberta? 

Tuca - Com viés totalmente popular e que, na maioria das emissoras, apenas leva em consideração as questões de audiência e faturamento, apostando, infelizmente, na passividade do telespectador. 

CI - Você acha que ela valoriza a cultura do brasileiro? 

Tuca - Pouco ou nada se levarmos em consideração aspectos culturais regionais e muito se levarmos em consideração o futebol como forte elemento da cultura brasileira. 

CI - O que há de bom na programação de domingo?Tuca - Durante o período da manhã existem alguns programas com objetivos nobres como o de divulgar a Ciência, inclusive a  Ecologia e até o Globo Rural, com algumas reportagens muito boas. 

CI - O que poderia e deveria ser excluído da grade imediatamente?

Tuca - Os programas humorísticos da Record que são sofríveis e alimentam o preconceito. Também a  autopromoção da Globo com o Faustão. A grade do SBT não apresenta nada de muito interessante. 

CI - Quais alterações nesse quadro são necessárias?

Tuca - Não sou contra o entretenimento e creio que todos têm o direito de ter o seu momento "Homer Simpson", no qual se deita em frente à TV com uma lata de cerveja e não quer se pensar em nada... Mas a programação dominical parece ter sido feita pensando que todos são "Homer Simpson". Um cuidado maior com os conteúdos, que podem ser ao mesmo tempo divertidos e informativos seria um bom começo. Um Fantástico sem tanta espetacularização creio que funcionaria. 

CI - Mas quais são possíveis? 

Tuca - Tudo é possível desde que haja vontade, profissionais preparados e compromissados com uma visão ética de sua atuação. 

CI - Qual a sua opinião sobre reprodução de esporte, em suma futebol, o domingo todo na TV? 

Tuca - O esporte, notadamente o futebol, é parte de nossa cultura. O que incomoda é como as TVs alimentam rivalidades e criam e destroem mitos em minutos. 

CI - E sobre o formato dos programas de auditório? 

Tuca - A maioria é lamentável. A política do agendamento do que deve ser discutido e a autopromoção das redes imperam. 

CI - E sobre os enlatados americanos? 

Tuca - Creio que a presença dos enlatados diminuiu muito nos últimos anos. Tenho a impressão que é um fenômeno em franca decadência. 

CI - Houve um tempo em que os domingos na TV eram diferentes? 

Tuca - Não creio que tenha mudado muito. Quando era criança via Silvio Santos e Renato Aragão. Eles continuam aí e os que chegaram depois não fazem algo muito diferente. 

CI - Quais os potenciais motivos que fizeram com que a programação dominical estacionasse no patamar atual? 

Tuca - Acredito que as motivações mercadológicas incentivadas pelo medo de testar novos gêneros e formatos tenham colaborado muito para isso. A passividade do espectador também. Se não houvesse audiência as emissoras seriam obrigadas a mudar. 

CI - Qual parcela da sociedade é telespectador em potencial para atual programação dominical dos canais abertos? 

Tuca - Não tenho os dados de audiência no momento, mas creio que ela é representativa em todos os segmentos. É lógico que aqueles com poucas opções de entretenimento dependem mais da TV. 

CI - Qual faixa etária se torna alvo mais fácil da espetacularização? 

Tuca - Todas as faixas são prejudicadas pela espetacularização, mas as crianças sempre sofrem mais. 

CI - Das TVs abertas, qual é a melhor para se assistir no domingo à tarde? Por quê? 

Tuca - Com todos os problemas atuais, a TV Cultura ainda possui uma programação diferenciada. Talvez em parte por conta de seu interessante acervo. 

CI - Se todos os canais oferecem o mesmo padrão, porque ninguém ousa algo diferente, que agrade a fatia que não assiste TV aberta de domingo? 

Tuca - Porque este público, acredito, está na Internet ou nas TV pagas e até desenvolvendo outras atividades de entretenimento neste período. Quem disse que domingo é dia de ficar em frente à TV? 

CI - O brasileiro gosta mesmo desse tipo de programa ou assiste por não ter outra opção? 

Tuca - Creio que as duas coisas, infelizmente. 

CI - Há elitização de programas de qualidade, visto que poucos têm acesso a TV fechada? 

Tuca - A  TV fechada tem crescido muito, mas TV fechada não é sinônimo de qualidade. Para completar a grade muita coisa ruim é programada. 

CI - A TV fechada oferece um padrão superior de programação dominical em relação a TV aberta? 

Tuca - Com a segmentação da programação, no geral, a qualidade da programação é melhor devido ao leque de opções, mas como disse antes, existe muita coisa ruim na TV fechada. 

CI - Alguns protagonistas dos domingos na TV aberta, como o Faustão, faziam programas interessantes no passado. O que acontece com esses protagonistas quando chegam ao auge da audiência? 

Tuca - O formato se esgota, a audiência muda e as pressões mercadológicas aumentam. 

CI - Se existissem programas de conteúdo superior ao praticado aos domingos ou em horário nobre durante a semana, o telespectador escolheria esses programas alternativos? 

Tuca - Pergunta difícil de responder. Em certa medida, a TV também dá aquilo que o público pede... 

CI - No jornal impresso, pode-se dizer que há espetacularizão na edição de domingo? 

Tuca - Creio que em algumas empresas jornalísticas essa é uma estratégia para aumentar as vendas. 

CI - O que é necessário para que o brasileiro aprenda a fazer uma crítica consciente do que assiste? 

Tuca - Educação. Simplesmente ela pode resolver este problema. 

CI - No grau de espetacularizção da mídia em que chegamos, há como retroceder? 

Tuca - Sempre há esperança.

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Para os consumidores mais afoitos, aqui vai uma dica de presente para quem curte um "Domingão do Homer": um maravilhoso porta-controle, disponível no blog "The Big Life", intitulado " Seven itens made better by Homer Simpson":


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