quarta-feira, 26 de agosto de 2009

A anti-narrativa de Alonso

Liverpool (2008) de Lisandro Alonso. Enfim consegui ver a mais recente película do diretor argentino e confesso que o diretor esgotou sua fórmula. Não que tenha me decepcionado, mas embora tenha imagens belíssimas a sensação de Dejà-vu imperou. A trama (ou não-trama) relata o percurso de Farrel, marinheiro que volta para Ushuaia, na Terra do Fogo, para recuperar um impreciso passado. Certo que li muitas críticas negativas como a de Raul Arthuso, que achei por demais contundente:
"Liverpool é obra de certo cinema pretensioso que não parece ter muita coisa a dizer e trabalha com a forma cinematográfica para criar uma pose de profundidade em meio às idéias vazias que utiliza, como o parnasiano poetiza apolineamente sobre o ferro de passar roupas de sua casa. "
Mas sou mais propenso a compartilhar o pensamento com a Revista Cinética na crítica de Rodrigo de Oliveira:
"Se é por aí que o diretor seguirá, pelo investimento mais dedicado às convenções de gênero, ou por algum outro caminho que radicalize algumas das mais potentes imagens que produzira anteriormente (em La Libertad sobretudo), isso é impossível antecipar. Mas Liverpool é o funeral consciente de um estilo, de um projeto de cinema e de uma visão do mundo. Retornar a ele seria negar ao filme sua maior qualidade: a de reconhecer a fragilidade de seus próprios métodos."
Abaixo trailer, depois o Making of em duas partes e, por fim, uma entrtevista com o diretor:









Interatividade !

Talvez esta seja a possibilidade mais próxima de interatividade que teremos a curto prazo... Veja ái o vídeo do E3 2009: Project Natal Xbox 360:

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Minimalismo

Sangre (2005) de Amat Escalante. Um post abaixo está o segundo filme do mesmo diretor, "Los Bastardos" (2008) e que, embora a crítica discorde, gostei mais. Aqui num registro mais lento e extremamente minimalista, a vida de um casal suburbano mexicano, Diego e Blanca, ele porteiro de uma repartição pública e ela garçonete de um fast-food nipônico. Blanca domina Diego e rejeita o pedido do marido em receber em sua pobre casa, para morar, a filha adolescente do primeiro casamento. Entre uma relação sexual e um capítulo de novela na TV a vida continua, até que... Bem... Vejam o filme que não tem trilha sonora e não faz falta. O próprio diretor reconhece a influência de Haneke em seus filmes. Interessante, ainda mais por se tratar de um diretor jovem. Segue o trailer e depois um trecho de entrevista do diretor disponível na Revista Pulp Movies:



¿Cómo surge entonces la idea de Sangre?

Escalante. Fue un proceso de dos años más o menos, de estar escribiéndola, pero sin una guía ni nada, yo iba así como ... todo bastante vago, terminé con muchas diferentes versiones de películas. Unas donde el punto de vista de la película era desde otro personaje, de la joven por ejemplo, una donde había narcotráfico y soldados, muy diferente, pero llegué a un punto que luego de elaborar tanto las cosas empecé a eliminar todo. Y me sentí muy bien eliminando, eliminando y ver qué era realmente lo que me interesaba y así fue como quedó la película. Fue un trabajo en que me tardé como dos años en hacer y luego el trabajo importante fue destruir ese trabajo que había hecho y lo queda es la película que filmé. También la destruí para hacerla más simple, porque era mi primera película, no tenía dinero y no tenía experiencia, quería hacerlo lo más sencillo que pudiera. Por eso es que realmente no uso música por ejemplo; hago parte de la película el no usar música pero también es porque la música significa dinero y significa saber usar la música y yo todavía no me siento tan seguro de poder usar música en una película. Yo creo que la música es potente por sí sola y una película es potente por sí sola, entonces mezclarlos aún no.

Esto le da un ambiente similar al de Haneke

Escalante. Sí claro, por eso me gusta Haneke, a él le gusta muchísimo la música también, pero le tiene muchísimo respeto, tanto respeto que no la mezcla tan fácilmente.

Un asunto de tu película que es muy impactante es la actuación, parece que llevaras al extremo total una especie de no representación de los actores, ellos se paran ahí frente a la cámara y dicen algo pero lo hacen de la manera más fría y distante. Incluso despreocupados de que están actuando.

Escalante. Es más bien una manera de actuar estilizada adentro de la película que ojalá tome su relación lógica dentro de la película. Es un riesgo también, porque mucha gente no está acostumbrada a eso, está acostumbrada a otro tipo de mala actuación. Esta es mala actuación también, pero ya la gente está tan acostumbrada a otro tipo de actuación que cuando les pones una cosa un poco más diferente, que yo creo que se aproxima más a la realidad, a mi realidad, porque yo con mi papá, con mi hermano hablamos como en la película, no tenemos que expresarnos como un actor. Yo ahorita estoy hablando contigo de una forma más actoral que con mi hermano. Cuando ya te puedes expresar tan bien no tienes que estar moviendo las manos y tratando de expresar tanto las cosas. Entonces eso funciona en [una relación] padre hijo y mujer marido, que tienen una relación que parece tal vez seca para nosotros, pero creo que si viéramos cualquier pareja creo que se acerca más a eso, a una pareja que ya lleva un rato y todo eso. No es ni incomunicación, es que ya no necesitan comunicarse tanto, porque ya saben qué, por eso es que funciona. Pero de todas formas eso lo agarré de Bresson, porque mientras dirigía la película tenía su libro este sobre los actores y notas sobre el cinematógrafo y pues de ahí me basé mucho en cómo hacer este tipo de actuación. Y es interesante porque puedes agarrar casi a cualquier persona, y la pones en frente de la cámara y puedes sacarle algo interesante. Lo difícil es encontrar a estas personas, que según yo, les falta como una cierta capa que la mayoría de la gente tenemos. Pues a estas personas les falta esta capa y se transmiten muy bien a la cámara, porque hay algo ahí, no que les falte, en el personaje principal por ejemplo hay algo, que a él lo puedes filmar muy bien, si lo ves normalmente en la calle no es lo mismo que si lo estás viendo detrás de una cámara, y eso fue lo que descubrí haciendo la película, que estas personas que escogí, y que por alguna razón escogí, me di cuenta que es un poco por eso, ellos tienen algo diferente y raro que se podría desprender hacia la cámara. No sé si esto tiene sentido.

domingo, 9 de agosto de 2009

Uma História Real?

Já comentei (veja aqui) o lançamento de Nome Próprio (Murilo Salles, 2007) com relação à sua forma de divulgação, que utilizou ferramentas de marketing da web para atingir seu público preferencial: jovens que usam a web para se comunicar. Esta semana vi a película e gostei muito. A estória em clima semi-documental da blogueira porra-louca vivida por Leandra Leal é um retrato de uma juventude que assumiu como confessora o espaço virtual da internet. Caso alguém tenha curiosidade de ver a primeira versão do roteiro, pode baixá-lo AQUI.
Abaixo o trailer e segue um texto do diretor explicando a gênese do nome do filme em seu blog.

No início, é o verbo. Tudo começa quando queremos fazer um filme novo. procuramos uma história. Eu começo sempre com uma questão. Sempre que estou procurando o que filmar uma questão se impõe para mim: fico procurando um tema para desdizer o destino terceiro mundista que nos é legado pelo 'pensamento' colonizador do primeiro mundo. Dizem que o nosso lugar é o da Barbárie. O que o colonizador/curador quer de nossos filmes? Que correspondam ao 'desejo' deles. Que afirmem a barbárie. Quero escapar desse lugar. Quero me revelar branco, preto, índio, brasileiro que sente angústia, preguiça e muito desejo de fazer as coisas do nosso jeito. E de não precisar de ninguém para avalizar isso de fora.

Descobri o livro "Máquina de Pinball", de Clarah Averbuck, lendo uma matéria da Córa Ronai sobre escritores que migravam da Internet. Achei então que a internet pudesse ser o meu tema, pois é um espaço que Brasileiros estão conquistando, fruto de uma nova individualidade que brota nos poros das grandes cidades. Sem complexo de nascença, sem problema de afirmação da origem, sem a culpa branca da origem, sem o pecado do lado de baixo do equador. Uma geração que simplesmente procura seu espaço identitário fora do complexo de vira-lata e da barbárie.

Foi por isso escolhi "Maquina de Pinball". Achei que tinha encontrado um tema! Mas, o livro, desafiador, me colocava um problema: precisava me encontrar ali dentro. Seu conteúdo tinha que fazer sentido para mim. Me debatia como a bola de pinball com essa dificuldade. A internet me empurrou para dentro da Máquina, mas não me identificava com seu conteúdo. Impossível. Ainda não estava preparado para estar ali. Nada fazia sentido.

Pedi a Elena Soarez que me ajudasse a descobrir o que existia no livro que me intrigava. Quando li o primeiro roteiro, percebi o que "Máquina de Pinball" me mostrava. Consegui enxergar Camila dizendo: me olhe, me veja, me sinta. Como no clássico do The Who. Uma MULHER. Elena me fez perceber a narrativa possível. E, então, as coisas foram ganhando sentido. Primeiro mergulhei ali dentro, me perdendo. Depois, para sobreviver, fui fazendo aquilo se tornar uma história, primeiro irreal, porque surreal, depois necessária. Uma raiva que virou tesão. Que tinha encontrado uma possibilidade de fuga, mas que ainda precisava de esfregação para se tornar uma história de verdade. Foi muita esfregação. Aprendi a me esfregar com Clarisses, com Hildas, com Cristinas, com Margaridas, com Espancas, com D'Avilas, com muitas mulheres - intensas mulheres que nos fazem temê-las por tanta intensidade, pois o campo 'estável' do masculino é prá fora. Homem não sabe muito bem o que é interioridade, melhor dito: ele teme a interioridade. Homem que é homem só encontra redenção na Vitória, conquistando, fodendo com outros homens, possuindo mulheres. Pobre coitado dos homens. Descobri que o tema da história que procurava era o feminino em sua complexidade, seu transbordamento. Para tal tarefa, com muito esforço e concentração, me tornei a melhor Camila. Eu sou a melhor Camila. Tinha que estar no filme, só assim viraria uma história real, ia ganhar sentido, identidade.

"Uma História Real" - foi com esse título que filmamos. Construindo narrativas, encontramos transcendência, podemos criar um espaço de redenção, de sonho, de realização.

Sim, acabei ao final de tudo, com todas as dolorosas esfregações me tornando algo que não sou, encontrando o meu desconhecido, meu heterônimo: Camila Lopes.

Mas, filme pronto, tudo isso passou a me inquietar. O nome do filme me trazia um desconforto ético, porque também não era uma história real, era só uma ficção. Descobri ao final de tudo que estava procurando um Nome Próprio.

Bastardos

Los Bastardos (2008) de Amat Escalante. Selecionado para a Mostra "Um Certo Olhar" de Cannes, o filme mostra inicialmente a rotina de mexicanos que vivem de sub-emprego nos EUA. Lá por um terço da película, dois deste trabalhadores, Jesús e Fausto (nomes apropriados), decidem dar uma guinada na estória e armados de uma escopeta invadem a casa de uma americana drogada-deprê de meia-idade. Paremos por aqui para não estragar a trama. O diretor nascido na Espanha mas que vive no México é protegido de Carlos Reygadas, (realizador já comentado aqui) e foi seu auxiliar de direção em "Batalha no Céu". O filme, a partir de certo momento lembra "Funny Games" de Michael Haneke. Abaixo leia o comentário de Eduardo Valente na Revista Cinética e depois o trailer:

"Escalante aqui une parte do que já trazia em seu primeiro filme (Sangre) do cinema de seu mentor e colaborador Carlos Reygadas, e soma um pouco com o que de pior nos dão o cinema de um Michael Haneke, de um Bruno Dumont, de um Ulrich Seidl. É a estética do refém levada à enésima potência, em que sempre sabemos o que acontecerá em cada plano (todos sempre belos, bem enquadrados, de longa duração e elegantes movimentos – afinal o mundo pode ser feio, mas o filme nunca): o pior que for possível. Para ilustrar tudo isso, Escalante faz questão de realizar um plano que se coloca o desafio de entrar na galeria dos mais dantescos da história do cinema (embora, para isso, use efeitos visuais inegavelmente fantásticos), e usa da lógica mais óbvia possível na sua composição: o que pode ser mais estúpido do que enquadrar seus personagens em situação humilhante do que colocar na trilha sonora fora de quadro um programa de videocassetadas? Pois é este o mundo segundo Escalante. "

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

“Software Takes Command”, o livro de Lev Manovich


Aqui neste link está prontinho para baixar o livro de Lev Manovich “Software Takes Command”(2008) . Para entender o conceito de Software Studies vou recorrer a texto disponível no “Blog Software Studies Iniative”:

“As pesquisas no Google, as recomendações da Amazon, as rotas aéreas, os faróis do trânsito, o e-mail e o seu telefone: nossa cultura funciona via software. De que forma o software molda o mundo?
O Software Studies é um novo campo de pesquisa intelectual que está começando a surgir. Cientistas sociais, filósofos, críticos culturais, téoricos da mídia e das novas mídias parecem hoje em dia compreender todos os aspectos da revolução da Tecnologia da Informação (TI), criando um número expressivo de novas disciplinas, tais como cibercultura, Internet Studies, Teoria das Novas Mídias e Cultura Digital. Contudo, a máquina que suporta e direciona quase todas esses campos - o software - recebeu pouca ou nenhuma atenção direta. O software é ainda invisível para a grande maioria dos acadêmicos, artistas e profissionais da cultura interessados em TI (Tecnologia da Informação) e os seus efeitos culturais e sociais. Mas se continuarmos a limitar as discussões críticas às noções de "ciber", "digital", "novas mídias" ou "Internet", estaremos em perigo por lidar somente com os efeitos e não com as causas. Corremos o risco de ficar observando somente os resultados que aparecem na tela do computador em vez de analisar os programas e as culturas sociais que produzem esses efeitos.”


Já comecei a ler... Boa leitura pra vocês !!!
!!! Em tempo: outra obra de referência sobre o assunto é “Software Studies” de Matthew Fuller. Abaixo está o o catálogo do FILE 2009 que é aberto pelo texto de Lev Manovich intitulado "NURBS theory about Cultural Analytics." Pra fechar, "A era da infoestética" entrevista de Lev concedida a Cícero Inácio da Silva e publicado na Revista Trópico sobre o livro de mesmo nome. Mais abaixo o vídeo com o workshop de Lev no FILE 2009 gravado em 30 de julho.

NURBS Theory | Teoria dos NURBS, por Lev Manovich