sábado, 20 de agosto de 2011

Deuses do Brasil




"Deuses do Brasil: Pelé e Garrincha " ( Jean-Christophe Rosé, 2002 ) é o título do documentário produzido pela BBC Four que mostra em formato de contraponto a história dos dois grandes ídolos do futebol. A película é amplamente a favor das pernas tortas do passarinho de Pau Grande (localidade no Rio de Janeiro onde Garrincha nasceu). De um lado está Pelé sempre nas altas rodas em altas rodas e cercado por celebridades... Do outro, Garrincha e seus problemas conjugais (com a amante Elza Soares) e etílicos... O final todo mundo já sabe. O filme apresenta imagens raras ou fora de circulação há muito tempo e forma um painel interessante do futebol pré copa de 70. Existem apenas alguns deslizes do tipo "macumba pra turista" como chamar o massagista Mário Américo de "especialista em samba e vudu"... É um belo documentário, mas não substitui de forma alguma  a leitura de " A Estrela Solitária" de Ruy Castro (esqueça o filme de mesmo nome...). Abaixo um trecho da Crônica de Carlos Drummond de Andrade sobre o "Anjo de Pernas Tortas" publicada no Jornal do Brasil um dia após a morte do jogador em 21 de janeiro de 1983:

"Se há um Deus que regula o futebol, esse Deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas, como é também um Deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho."


Tava esquecendo o poema de Vinícius " O Anjo das Pernas Tortas" :


A um passe de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.

Vem-lhe o pressentimento; ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés - um pé-de-vento!

Num só transporte a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.

Garrincha, o anjo, escuta e atende: - Goooool!
É pura imagem: um G que chuta um o
Dentro da meta, um 1. É pura dança!



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