Dias de Cão (Hundstage / Dog Days- Áustria, 2001) de Ulrich Seidl - Primeiro filme de ficção do diretor que veio dos documentários e isso explica muita coisa da estética do filme. Durante dois dias de um verão sufocante no ambiente asséptico e pequeno-burguês de um condomínio austríaco são expostas todas as feridas, frustrações e perversões de uma sociedade que mal consegue expressar seus sentimentos. A forma cruel como os corpos das pessoas são mostrados, nus e desprovidos de beleza me lembrou muito "La batalla en el Cielo" de Carlos Reygadas e que gosto muito. Abaixo a cena do "Jogo da bebida":
Pra complementar o post aqui vai uma entrevista com o diretor na FOLHA, publicada em 01/11/2001:
"Dias de Cão" marca estréia de diretor austríaco na ficção
Por JOSÉ ROCHA M. FILHO - especial para a Folha de S.Paulo, em Viena
Folha - Em "Amor Animal" (1995), a mistura de atores profissionais e leigos, ficção e documentário é surpreendente. Como o sr. desenvolve esse estilo em "Dias de Cão"?
Ulrich Seidl - "Dias de Cão" é meu primeiro filme de ficção, feito parcialmente com método documental. A diferença é que nele os atores e os não-atores não interpretam a si mesmos.
Folha - Qual seria a parcela de influência dos documentários?
Seidl - Não estabeleço uma diferença entre documentário e ficção. Comecei a fazer documentários porque eram mais fáceis de serem financiados. Mas o limite entre a atuação e entre o documental é meu maior interesse.
Folha - O material coletado para o roteiro veio de seu acervo pessoal. Como foi vertido para o cinema?
Seidl - Essa espécie de arquivo já me acompanha há anos. Coloco numa pasta reportagens que me despertem interesse, anotações pessoais, fotos e lembranças.
Folha - Em "Dias de Cão" o corpo recebe um olhar brutal. Como descreveria essa política do corpo?
Seidl - Meus filmes não mostram beleza, mas corpos como eles são: pessoas idosas desnudas, assim como os jovens.
Folha - A dor é um tema frequente. Estaríamos diante de um "cinema da dor"?
Seidl - Para mim, o cinema vai além do prazer frugal e passageiro. Não se trata do limite ao que se pode submeter o espectador, mas do quanto de realidade é precisa ser para contar uma história. Mas meus filmes podem ser engraçados, sob determinado aspecto.
Folha - Como o sr. analisaria a atual política do governo austríaco em relação ao cinema?
Seidl - É paradoxal... O governo austríaco cortou o orçamento do cinema quase a zero, embora fale-se da Áustria como um país que incentiva a cultura. Mesmo assim, o cinema austríaco está sendo bem-sucedido como nunca foi nos últimos 30 anos.
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